Guaraná: energia em forma de fruta
Guaraná: energia em forma de fruta. O cultivo de guaraná é de grande importância socioeconômica para a região, por ser explorado em pequenas propriedades e ser uma atividade típica da agricultura familiar. A área cultivada na Bahia é de oito mil hectares, com produção de 2,6 mil toneladas e uma produtividade média superior a 500 quilos por hectare, contra menos de 300 kg/hectare da região produtora da Amazônia.
A produtividade dos plantios baianos é muito superior, considerando que o Estado reúne condições mais propícias ao desenvolvimento da planta, com boa distribuição de chuvas ao longo do ano, solos de maior fertilidade e baixa incidência de doenças, como a antracnose.
Os frutos
Os frutos de guaraná possuem coloração vermelha e, em menores proporções, alaranjada e amarela. Quando estão maduros, costumam ser abertos parcialmente, deixando à mostra de uma a três sementes de tom castanho-escuro, com a metade inferior recoberta por um espesso arilo branco.
Segundo o Sebrae Mercados (Serviço de Apoio à Micro e Pequenas Empresas), a colheita é realizada neste estágio, para que as cápsulas (casca) não se abram totalmente, evitando a queda das sementes.
Produtividade ainda é baixa
O Brasil é o único produtor comercial de guaraná do mundo, com produtividade média de 298 quilos por hectare, que é considerada baixa. Este resultado é devido ao plantio de mudas de clones selecionados e de variedades tradicionais não melhoradas, além da idade avançada dos guaranazais, alta incidência de pragas e doenças e falta de tratos culturais adequados.
Guaraná: energia em forma de fruta. O Sebrae Mercados orienta o produtor rural a sempre buscar sementes ou mudas (clones) selecionadas. Especialistas recomendam ainda que o guaranazeiro seja propagado pelo enraizamento de estacas (ramos retirados da planta, herbáceos, não lignificados e com as folhas totalmente expandidas).
A produção de mudas por sementes não é aconselhada, por causa da grande variabilidade genética existente entre as plantas de guaraná, porque produzem um pomar desuniforme e de produtividade muito variável.
Cultivares
Para auxiliar na procura por mudas melhores, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem lançado cultivares selecionadas e de alta produtividade, a exemplo da BRS Saterê e BRS Marabitana.
Ambas apresentam resistência estável à doença antracnose (principal doença do guaranazeiro), resistência completa à hipertrofia da gema vegetativa e galha do tronco e suscetibilidade superfrutas à hipertrofia da gema floral. Em 2011, a unidade da Amazônia Ocidental lançou quatro cultivares de guaranazeiro: BRS Cereçaporanga, BRS Mundurucânia, BRS Luzeia e BRS Andirá.
Lançada em 2013, a BRS Saterê tem boa produtividade e resistência a doenças. É recomendada para o plantio em todo o Estado do Amazonas. Tem alta produção, cacho com alta densidade de frutos de forma globosa e coloração avermelhada, variando de um quilo a 1,5 kg de sementes secas por planta ao ano, o que representa uma produtividade de 400 quilos por hectare a 600 kg/ha de sementes secas, 500% a 600% maior do que a produtividade atual obtida no Amazonas.
Também lançada em 2013, a BRS Marabitana possui as mesmas propriedades. O que as diferencia são as características físicas da planta, tais como formato, cor, folhas e ramos. A BRS Marabitana, por exemplo, tem frutos de cor amarela e a Saterê, vermelha. O teor de cafeína da primeira é de 3,8% e da segunda, 4%.
“A estratégia de lançar novas cultivares é uma forma de controlar a antracnose, aumentando a diversidade genética dos plantios e, assim, criando uma barreira genética às doenças, especialmente a antracnose, que afeta os cultivos amazonenses”, explica o pesquisador André Atroch, da Embrapa Amazônia Ocidental.
Cultivar de guaraná Saterê, que tem frutos vermelhos e teor de cafeína de 4%
Produção comercial
De acordo com o Sebrae Mercados, a produção comercial de guaraná costuma se estabilizar após três anos do plantio, no caso dos clones; e em cinco anos, para as plantas tradicionais. Além disto, a sobrevivência dos clones no campo, depois de um ano do cultivo, supera em 90%, enquanto nas plantas provenientes de sementes, geralmente, fica abaixo de 80%.
A instituição orienta o produtor a despolpar e torrar o guaraná para comercialização. Após a colheita, os frutos devem ser colocados em sacos ou amontoados em um espaço limpo, por até três dias, para que ocorra a fermentação. O local de estoque deve ter piso de cimento ou cerâmica e, de preferência, ser fechado, para evitar acesso de animais.
“A fermentação facilita a retirada da casca, tanto manualmente ou com equipamentos apropriados. Após o despolpamento, as sementes são lavadas em água limpa e classificadas em dois tamanhos, por peneira com malha de seis milímetros”, informa o Sebrae Mercados.
Preparação
Depois de classificá-las, as sementes devem ser torradas separadamente, ação que facilita a uniformização do ponto de torrefação, alcançando um produto homogêneo. A torrefação deve ser realizada em um tacho de barro ou metálico, em fogo brando, mexendo as sementes constantemente, para melhor distribuição do calor. A torrefação em tacho de barro é mais comum e leva de quatro a cinco horas, enquanto no tacho metálico, este tempo é de cerca de três horas e meia.
Conforme o Sebrae Mercados, para a indústria de refrigerantes, as sementes de guaraná estarão prontas quando chegarem ao “ponto de estalo” ou umidade em torno de 5% a 7%. Para o guaraná em bastão, a umidade deve ser de 8% a 12%.
As sementes precisam ser armazenadas em sacos aerados, se possível de fibras naturais, como aniagem ou juta. Em condições adequadas, o tempo de armazenamento pode alcançar até 18 meses.
Utilização
Segundo o mercado atual, o guaraná pode ser processado e consumido na forma de pó, bastão, xaropes e extratos. Nos refrigerantes, o conteúdo mínimo exigido de sementes de guaraná é de 0,2 gramas e o máximo de dois gramas por litro e/ou seu equivalente em extrato.
Guaraná: energia em forma de fruta. É também aplicado na fabricação de bebidas energéticas, sorvetes, fármacos, cosméticos, confecção de artesanato, entre outras utilidades.
Por Almir Souza-Redator Hacker Free Lancer
Fontes: Embrapa, Ibraf e Sebrae Mercados
Foto Felipe Santos da Rosa