Um Olhar Sobre Manaus: Entre a Modernidade e a Essência Urbana – Por Almir Souza

A relação entre o habitante e a cidade está em constante transformação, refletindo as mudanças impostas pela modernidade urbana. Manaus, com sua história rica e sua localização privilegiada no coração da Amazônia, não escapa desse processo. A cidade, que um dia foi símbolo da opulência e do esplendor arquitetônico durante o Ciclo da Borracha, hoje se reinventa entre os desafios do crescimento urbano e a busca por uma identidade preservada.
Almir Souza, o olhar do habitante, aquele que circula apressado pelas ruas, muitas vezes deixa de perceber os valores fundamentais da paisagem urbana. A necessidade de se deslocar rapidamente, seja por meio de automóveis ou transportes públicos, faz com que o cidadão perca a conexão com o espaço em que vive. Esse fenômeno, já abordado em diferentes obras literárias e filosóficas, também encontra eco no cotidiano manauara.
O frenesi urbano leva à perda de referência dos lugares que antes eram marcos históricos e culturais, resultando na descaracterização da cidade e na desconexão entre os habitantes e seu ambiente.
O poeta amazonense Thiago de Mello já apontava essa transformação ao afirmar: “Ninguém está prestando atenção ao vento que há de soprar amanhã, e todavia o heroísmo da vida moderna nos rodeia e nos pressiona.” Sua crítica permanece atual, pois vivemos imersos em uma avalanche de informações, imagens e estímulos que nos distanciam da experiência sensorial e afetiva com o espaço urbano.
A modernidade trouxe consigo invenções que mudaram radicalmente o comportamento humano. O automóvel, o telefone, o cinema e a aviação não apenas encurtaram distâncias, mas também alteraram nossa percepção do tempo e do espaço. Em Manaus, isso se traduz na substituição das caminhadas desaceleradas pelo transporte motorizado, na verticalização das construções que sufocam as antigas fachadas e na urbanização acelerada que ignora os traços históricos da cidade.
O caminhar, como ato essencial de interação com a cidade, foi trocado pela locomoção mecanizada. No passado, as ruas de Manaus eram palcos de encontros, conversas e contemplação da arquitetura singular, como o majestoso Teatro Amazonas e o Palácio Rio Negro.
Hoje, a pressa e a necessidade de deslocamento rápido fazem com que poucos parem para admirar a beleza histórica que ainda resiste.
Almir Souza, assim como no conto fictício em que uma cidade começa a desaparecer porque seus habitantes deixam de observá-la, Manaus corre o risco de perder sua identidade caso não haja um resgate dessa relação essencial entre homem e cidade. Valorizar os espaços públicos, incentivar caminhadas, preservar o patrimônio histórico e estimular uma urbanização sustentável são passos fundamentais para garantir que a cidade continue a existir não apenas fisicamente, mas também na memória e na vivência de seus habitantes.
A qualidade de vida em uma cidade não depende apenas de infraestrutura e desenvolvimento econômico, mas também da forma como seus moradores se relacionam com o ambiente urbano.
Olhar Manaus com mais atenção é um primeiro passo para garantir que sua essência não se dissolva na pressa do cotidiano, mas permaneça viva, pulsante e significativa para as gerações futuras.
por Almir Souza-Redator Hacker Free Lancer
Fonte Redação Fama
Foto Zamith Filho