Vivendo em um Mundo sem Lei

Fama Amazônica – Os líderes políticos de nosso tempo estão quase sempre envolvidos em esquemas de corrupção. Como um cristão lida com esse fato?
A Transparência Internacional, uma organização sem fins lucrativos que avalia a corrupção em países e governos locais, publica anualmente o Índice de Percepção da Corrupção. Esse índice classifica 180 países de acordo com a percepção de transparência em seus governos. Quanto maior a nota, maior a transparência e menor a percepção de corrupção naquela nação ou região.
Desde o início dessas avaliações, em 2012, o Brasil tem figurado entre os países com altos índices de corrupção. Em 2024, o Brasil recebeu a nota 34, a pior já registrada, posicionando-se na 107ª colocação. No governo anterior, a nota era 38 e o país estava na 94ª posição. Essa queda reflete uma tendência preocupante e exige reflexão e ação.
Contudo, antes de lançar acusações isoladas, precisamos reconhecer que a corrupção não está apenas no alto escalão político, mas enraizada na cultura social brasileira. Desde pequenas infrações, como furar filas e tentar subornar agentes de trânsito, até os escândalos milionários no governo, a corrupção permeia diversas camadas da sociedade. Por vezes, essa prática é tolerada e, em alguns círculos, até admirada. Isso levanta uma questão fundamental: como podemos mudar essa mentalidade?
O Papel do Cristão Diante da Corrupção
Para aqueles que seguem princípios cristãos, a corrupção representa não apenas uma falha moral, mas um afastamento dos valores bíblicos. A Bíblia ensina a honestidade e a justiça como pilares fundamentais da conduta humana. Em Provérbios 29:4, está escrito: “O rei que exerce a justiça dá estabilidade ao país, mas o que gosta de subornos o leva à ruína.” Esse versículo ilustra como a corrupção destrói sociedades e compromete a justiça.
Além disso, Jesus Cristo, em sua pregação, sempre enfatizou a importância da verdade e da integridade. Em Mateus 5:37, ele declara: “Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do maligno.” Ou seja, o cristão deve ser exemplo de retidão em todas as suas atitudes, mesmo que isso signifique nadar contra a corrente de um sistema corrompido.
Para nós amazonenses, nosso chamado não é simplesmente criticar e apontar os erros deste ou daquele governante. Com certeza há governos melhores e piores. Mas o que devemos fazer como participantes do Reino que é descrito como: “Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo; aquele que assim serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens” (Romanos 14:17)? Como lidar com governantes corruptos e, em alguns casos, abertamente hostis a ideais cristãos?
O Império Romano na época de Jesus era conhecido por sua corrupção. Governadores de províncias sabiam que tinham um tempo limitado para enriquecer antes que as queixas dos líderes provinciais chegassem a Roma e, por meios políticos, esse governador fosse substituído. Dentro desse contexto, lemos na passagem de Lucas 20:20-26 como Jesus respondeu ao tema de viver em um contexto iníquo.
Já no versículo 20 lemos que os líderes judeus “mandaram espias que se fingiam de justos para apanhar Jesus em alguma coisa que ele dissesse”. Ou seja, estes homens aparentavam justiça, provavelmente declarando uma crise de consciência. O denário, moeda de prata equivalente ao pagamento de um dia de um trabalhador braçal, trazia não só a imagem do imperador, mas também a declaração de que este era filho de um ser divino e, ao mesmo tempo, sumo sacerdote. Assim, continha várias ofensas à lei judaica.
A questão parece legítima, mas Marcos 12:13 nos revela que esse grupo enviado era composto por fariseus e herodianos. Os fariseus eram do partido que levantaria essas perguntas, mas os herodianos não. Aliás, esta é uma parceria das mais improváveis. Os herodianos eram judeus partidários de Herodes e comprometidos com os desvios da Lei e costumes de Herodes. Eram judeus que não tinham respeito pela Lei. Ainda assim, fizeram uma aliança de interesses, colocando de lado suas desavenças para tentar armar uma armadilha para Jesus.
A pergunta se era legítimo pagar os impostos a César (Lucas 20:21) era impossível de responder sem irritar os judeus devotos ou os romanos (por isso, fariseus e herodianos). Jesus, no entanto, lança uma pergunta que leva a questão a um nível mais profundo. Por um lado, ele responde que sim, deveriam pagar o imposto. Apesar da corrupção e blasfêmias, o Império Romano trouxe paz suficiente à região para que o evangelho pudesse criar raízes e avançar. Deus não deixa de usar governos iníquos para promover seu plano (caso contrário, não poderia usar governo nenhum…).
Ao mesmo tempo, ele aprofunda a discussão ao afirmar que devemos dar a Deus o que é de Deus. Esta afirmação tanto é uma crítica às inscrições no denário, como um alerta para que dediquemos nossos corações a Deus. Jesus está chamando tanto fariseus como herodianos a uma vida de integridade diante de Deus. Para os herodianos, isso significaria deixar de lado sua submissão aos costumes pagãos e, para os fariseus, abandonar seu legalismo. Para ambos havia uma crítica aos jogos políticos.
Como Construir uma Sociedade Mais Íntegra?
A questão de como viver em uma sociedade pagã é muito ampla. No entanto, certamente segue dois princípios: (1) temor a Deus e (2) sujeição ao governo civil, na medida em que esta não fira o primeiro princípio.
Minha oração por você e por mim é que tenhamos o temor do Senhor como rumo em nossas vidas enquanto navegamos estes tempos difíceis e a iniquidade institucionalizada.
por Almir Souza-Redator Hacker Free Lancer
Fonte Redação Fama
Foto AAS